"And now for something completely different..."

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

A Canção do Príncipe Esquecido

 A Canção do Príncipe Esquecido
por Bruno Antonelli


De um pequeno reino advindo
O príncipe desta canção
É lembrado por quem está ouvindo
Essa história com atenção 


Do bom e do melhor, nada lhe faltava
Pois do trono era herdeiro
Mas sua modéstia atestava
Que dos reis, seria o mais ordeiro


Mas esse não seria o seu destino
Pois pela pior das maldições foi acometido
E assim de um jeito repentino
Ao inferno e desespero foi prometido


Sua carne lentamente apodreceria
E sua mente e sanidade ele perderia
Até seu próprio nome esqueceria
E da pessoa que ele foi um dia


Pelos mais sábios e por curas mágicas
Os seus pais procuraram sem freio
Mas as respostas eram sempre trágicas
"Não existe cura", diziam sem floreio


Ele se sentiu abandonado
Por seu reino e pelos seus pais
Quando ainda vivo era lamentado
Como um moribundo em seus momentos finais


Até que um dia ele se conformou
E seu fim decidiu adiantar
Mas no último instante alguém o salvou
Foi o menestrel o único a se importar


Ele lhe contou sobre uma canção que ouvira
Tocando em cortes muito distantes
Sobre uma lendária curandeira
Que havia salvo um de seus amantes


Então na surdina após anoitecer
O príncipe e o menestrel deixaram o castelo
O príncipe já não tinha mais nada a perder
E o menestrel não abandonaria a quem achava o mais belo


Para encontrar uma cura viajaram pelo mundo
Atravessando desertos e até cruzando o mar
O príncipe foi tomado por vagabundo
Em terras distantes de seu lar


Mas por fim não tiveram sorte
E a maldição parecia se concretizar
Não havia cura a não ser a morte
E o príncipe já mal podia de seu nome recordar


"Parece que nossa jornada chegou ao fim"
Disse o príncipe ao menestrel
"Não se esqueça de mim,
Pois eu já teria se não escrevesse meu nome em um papel."


E quando o menestrel caiu a chorar
O príncipe lhe tentou reconfortar
"Não chore, torne isto numa canção"
"Escreva-a aqui", e lhe entregou um papel em sua mão


Muito depois o menestrel já sozinho
Tomou coragem para abrir aquele papel
E naquele pequeno pedaço de pergaminho
Estava escrito "Príncipe Lucatiel"


E aquela noite o menestrel passou acordado
Escrevendo a prometida canção
Para que eternamente fosse recordado
Quem foi o dono de seu coração


"Oh Lucatiel
Acometido por um destino cruel
Seu nome escrito num papel
Não se esqueçam do Príncipe Lucatiel"


"Oh Lucatiel
O tempo apaga a tinta do pincel
Escrevam na rocha com um cinzel
Quem foi o Príncipe Lucatiel"


"Oh Lucatiel
Relembrado por este menestrel
Você me escuta lá do céu?
Meu Príncipe Lucatiel"


E até hoje nas tavernas é cantada essa canção
E todos se lembram do Príncipe Lucatiel
Mas o que me parte o coração
É que ninguém lembra o nome do menestrel 


~

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Magic: The Beginning

Esses dias estava pensando em como fazem 20 anos que eu jogo Magic: The Gathering.

"Como foi que você conheceu Magic? Quando você começou a jogar? Qual foi o seu primeiro deck? Você lembra qual foi a sua primeira carta?", perguntas assim surgem o tempo todo.

Depois de tomar meu tempo respondendo longamente à essas perguntas em conversas pessoais ou publicações em redes sociales em mais de uma ocasião, decidi que iria postar a história completa e detalhadamente aqui. Apenas porque eu praticamente já fiz isso no Tuíter/Xis e o texto tá quase pronto na minha cabeça, então vamos lá.

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O Primeiro Contato com a Magia

O ano era 2003, na primeira metade, então eu ainda tinha 10 anos e estava na 5ª série (época na qual eu conheci meu bom amigo Queijinho, quando mudei do período da tarde para o período da manhã). Nessa época eu ainda morava em São Caetano, na casa da minha vó. Éramos eu, meus pais, meus avós maternos, e meu tio e tia (irmãos mais novos da minha mãe). A pessoa mais próxima de mim na casa, desde o falecimento da minha bisavó dois anos antes, era a minha tia Daniela, que na época tinha cerca de 26/27 anos. Ela compartilhava comigo das coisas que eu gostava durante a infância, como desenhar, assistir Pokémon e jogar videojogos no aparelho computadorizado dela. Ela foi a primeira pessoa que conheci a ter um computador, e foi nesse computador que alguns anos antes eu havia jogado meu primeiro videojogo: Pokémon Blue, emulado em um disquete. (vish)

Enfim, nessa época minha tia apareceu com um namorado novo, um cara gaúcho, nerd e alguns anos mais novo do que ela. Acho que o nome dele era Márcio. Foi uma grande melhoria depois do último namorado dela, um tal de Jonas, que era doente a ponto de ter ciúmes dela passar tempo comigo. Eu poderia já ser chamado de nerd na escola, mas eu ainda não sabia o que realmente era o mundo nerd mais clássico, e sua profundidade. Nas visitas desse Márcio à nossa casa, ele sempre trazia coisas nerds para compartilhar comigo e com a minha tia, e elas sempre me pareciam fantásticas e interessantes. Lembro que ele trazia coisas como miniaturas de RPG de mesa, Playstation com jogos e etc. Curiosamente, pensando agora, a primeira vez que joguei Tenchu 2, um jogo que até hoje está entre os meus favoritos de todos tempos, foi ele quem trouxe, antes de eu ter o meu próprio Playstation. 

Até que uma vez ele trouxe uma caixinha de plástico com suas cartas/decks de Magic dentro. Lembro que senti um certo "misticismo" ao redor do jogo, por causa de sua arte traseira e estética parecerem muito mais "sérios" do que as artes de outros cardgames que eu conhecia, como Pokémon, Digimon e até mesmo Yu-Gi-Oh. Cartas como Poder de Gaia pareciam ter uma arte muito mais "crua" e realista, quase como se fossem pinturas e falassem sobre magia DE VERDADE, algo que meus avós religiosos não iriam gostar. Não sei se foi nesse mesmo dia, mas certa vez nós 3 (eu, minha tia, e o namorado dela) pegamos um ônibus até São Paulo e fomos na clássica Livraria Devir, onde estava tendo uma Friday Night Magic, ou como ele dizia, uma "Magic Night".

Fiquei deslumbrado vendo os expositores com mapas/dioramas de RPG, cheios de miniaturas fantásticas de cavaleiros e magos, e outras coisas que estavam à venda. Tanto que quase não prestei atenção ao pessoal nas mesas jogando cardgames, e não lembro muito do que fizemos por lá. Enfim, quando voltamos para casa, eu estava vendo as cartas dele e, não lembro se eu pedi por isso ou se foi algo espontâneo dele, mas ele me deu uma de suas cópias de um Fractius de Couraça.

Fractius de Couraça

"Superar a extinção só fez os fractius tornarem-se mais determinados a viver." Esse flavour text e a estranha criatura completamente original desse jogo me deixaram fascinado e me perguntando "O que são fractius? Qual a história por trás dessa extinção?", eu ficava criando as respostas na minha cabeça, imaginando em que tipo de mundo eles viviam. Mas não seria até o ano seguinte, em 2004, que eu encontraria esse jogo novamente e finalmente começaria a jogar.

O Meu Primeiro Grimório

Pois vejam bem, não só a minha tia e esse cara acabaram terminando, como na minha escola, naquela época, ninguém jogava Magic: The Gathering. Todo mundo só jogava Pokémon TCG, e eu mal sabia da existência de lojas de cardgames, exceto aquela em São Paulo que visitamos, mas ela ficava em outra cidade, o que pra mim era a mesma coisa que outro mundo. Conforme o tempo passou, eu guardei aquele Fractius de Couraça entre minhas poucas cartas de Pokémon e Yu-Gi-Oh e acabei esquecendo do joguinho por um tempo.

No meio de 2003 eu e meus pais nos mudamos da casa da minha vó, e fomos de São Caetano para Santo André, morar num apartamento de condomínio, a primeira casa própria dos meus pais que não era de aluguel. Nesse ano o condomínio ainda estava em construção, e não tinha muito espaço para conhecer outras crianças, além de que eu continuei indo para a minha antiga escola em São Caetano de van até finalizar o ano. Foi em 2004 (6ª Série) que eu mudei de escola para uma mais próxima que havia acabado de inaugurar a apenas dois quarteirões de casa, e conheci pessoas novas tanto na escola quanto no condomínio. E adivinhem só? Algumas dessas pessoas começavam a jogar Magic, é claro!

A primeira outra criança que conheci que jogava Magic foi no condomínio, um coleguinha chamado Felipe, apelido "Brasileiro" (pois a primeira vez que ele apareceu lá, estava com uma camiseta do Brasil. É, posso dizer que os apelidos que davam nesse condomínio eram um pior do que o outro). Enfim, ele havia começado com um deck de artefatos de modular lançado em Darksteel, coleção de Fevereiro de 2004, mas já havia conseguido adicionar duas cópias do Colosso de Aço Negro no deck, entre outras coisas. Sim, era brutal demais.

Mas agora eu conhecia outra pessoa da minha idade com quem jogar, e literalmente na próxima vez em que fui num Shopping com a minha mãe (o que era algo que estava começando a se normalizar, antes de mudarmos de cidade, ir em Shoppings era algo que aconteceu tipo 3 ou 4 vezes na minha vida), mais especificamente o Grand Plaza Shopping (naquela época Shopping ABC Plaza), eu convenci ela a comprar para mim um dos decks disponíveis numa loja de brinquedos genérica.

Malévolos e Monstruosos

Não lembro exatamente quando foi, até porque Mirrodin era um set mais antigo, do fim de 2003, mas eu encontrei ainda disponível o deck básico verde "Malévolos e Monstruosos". Vou assumir que ainda fosse a primeira metade de 2004, então eu tinha apenas 11 anos quando comecei, oficialmente, a jogar Magic. O deck era basicamente apenas bichões, ramp e remoções de artefato, o que parecia perfeito contra o deck de artefatos que havia visto meu colega usar, exceto pelos Colossos indestrutíveis. Embora a estrela do deck supostamente fosse o Trolls de Tel-Jilad (que já não era nada mal, ainda mais na época), eu me apeguei bem mais à cartas mais agressivas como o Vorme Escoriáceo de PlacasEnxame Vivo e, principalmente, Unhas e Dentes (carta que ainda é uma bomba até hoje, e permanece na minha versão atual desse deck). A receita foi um sucesso, e na primeira vez que usei o deck, já consegui derrotar o tal deck de artefatos, pois mesmo que ele tenha finalmente descido o Colosso de Aço Negro no fim da partida, ele só podia utilizá-lo para bloquear um dos meus muito bichões. Finalmente, eu estava provando o meu primeiro gosto da "magia" em ação.

No entanto, ainda não tinha muitas outras pessoas com quem jogar além dele, e ele em si não era uma companhia muito agradável, então o deck acabou ficando de lado por algum tempo. Foi mais para o final do ano, em Outubro de 2004, que outras pessoas, tanto da escola nova quanto do condomínio, começaram a jogar também. A coleção que estava em lançamento era Campeões de Kamigawa, e ver as cartas desse set com temática japonesa me deixou novamente maravilhado pelo jogo, especialmente numa época em que Naruto (baixado na internet em japonês legendado, ainda muito longe de ser lançado na tv) e eventos de anime estavam começando a ser uma coisa. Uma das cartas que eu lembro que mais me chamou a atenção foi o Kirin Generoso, que um amigo da escola, Luiz, mostrou para mim. 

Kirin Generoso

Mais uma vez o jogo brincava com a minha imaginação, me mostrando outro tipo de criatura fantástica que eu nunca tinha ouvido falar antes! "O que é um kirin? Onde eles jabutam?" (habitam*) Eu ficava me perguntando... Mas infelizmente eu não poderia pedir outra coisa para os meus pais tão cedo, e tive que deixar essa coleção passar, jogando apenas às vezes com meu deckinho monoverde de bichão, apreciando as cartas dos meus colegas. 

Experimentando Novas Águas

Foi uma época estranha pois, de certa forma, eu era um "estranho no ninho", em meio à colegas de uma classe social um pouco mais alta, acostumados a receber coisas de seus pais o tempo todo, enquanto a minha família, até então, não era bem assim... Não éramos pobres, mas também não éramos ricos, e eu não podia pedir por coisas fora do meu aniversário ou do Natal. Quer dizer, às vezes rolava, mas foi só no meio do ano seguinte que pude continuar com meus primeiros passos no joguinho, adquirindo um segundo deck pré-construído, novamente naquela loja genérica de brinquedos no Grand Plaza:

Alturas Majestosas

Infelizmente já não tinham mais decks de Kamigawa disponíveis, então o deck que mais me chamou a atenção foi esse deck básico azul da 9ª Edição: "Alturas Majestosas". Tendo sido lançado em Julho de 2005, eu já tinha então 13 anos e estava na 7ª Série. O deck consistia basicamente de criaturas com voar, cartas de comprar carta, e cartas de anula. A estrela do deck era o Gênio Mahamoti, mas a minha carta favorita, apenas por causa da arte, era o Dragonete Lazur.

No entanto, a minha mente ligeiramente retardada de criança mais infantil do que o normal não era capaz de compreender coisas como "tempo de jogo" e "card advantage". Na verdade, eu nem mesmo entendia como "anular" funcionava, e sem conhecer as regras do jogo direito, "anule a mágica alvo" para mim parecia algo que funcionava apenas contra mágicas instantâneas. E isso que tinham cartas que diziam "anule a mágica de criatura alvo". Não preciso dizer que eu não ganhei nenhum jogo com esse deck, e fui ficando extremamente desapontado...

Mas meus amigos, do prédio e da escola, continuavam jogando. E em Outubro do mesmo ano lançou a nova coleção Ravnica: Cidade das Guildas, e todos pareciam muito animados. Um set novo, num mundo novo, um mundo completamente coberto por uma vasta metrópole. Guildas, intrigas e decks de duas cores! Não que não existissem decks de duas cores antes, mas foi também quando introduziram o símbolo de mana híbrido, com cartas multicoloridas que, em vez de apresentarem a frame dourada de costume, eram meio-a-meio! Tudo parecia muito interessante, então lá fui eu na minha mãe novamente, pedindo para comprar um deck novo, para que eu não perdesse a hype da coleção nova como foi com Kamigawa no ano anterior... 

Intrigas Dimir

As guildas introduzidas nessa coleção foram os Boros, Golgari, Selesnya e Dimir, e o deck que eu acabei escolhendo foi o "Intrigas Dimir", afinal era o único deck com azul nessa coleção, e eu pensava em juntá-lo com meu deck azul para tentar melhorá-lo. A estratégia do deck novamente era um pouco "avançada demais" para mim, focado em criaturas difíceis de bloquear e cartas de remoção, com a possibilidade de millar o oponente em um uma partida longa. Céus, talvez fosse até pior do que o deck básico azul que havia adquirido anteriormente, eu não via muitas condições de vitória nesse deck... A estrela do deck era Szadek, Senhor dos Segredos, uma criatura extremamente pesada e relativamente fraca, se formos pensar que já existiam cartas como o próprio Colosso de Aço Negro mencionado anteriormente.

Acho que só ganhei com esse deck uma vez, com o Szadek simultaneamente millando/matando meu adversário. Foi bem legal, afinal o Szadek PARECIA maneiro e queria vê-lo funcionando, mas até onde me lembre só aconteceu uma vez, e depois eu nunca mais consegui ficar vivo até conseguir baixá-lo. A frustração com o azul/Dimir continuou crescendo, até que, seguindo a dica do meu amigo Luiz, eu abandonei essa ideia de jogar com decks mais "avançados" e retornei para o confiável monoverde stompy onde comecei minha jornada, trocando com ele quase todas as minhas cartas azuis e pretas por cartas verdes e o artefato Cubo Duplicador para colocar naquele deck (que na época achávamos que gerava mana permanentemente, acumulando entre os turnos, e anotávamos a reserva de mana num papel ao lado kkk).

Foi por volta dessa época que eu tentei introduzir Magic para o meu amigo Queijinho, tentando convencê-lo a jogar comigo, mas infelizmente ele não estava muito interessado (ainda). De qualquer maneira, a partir de então, os meus conhecimentos sobre o jogo e sobre deckbuilding, felizmente, só iriam melhor...

Retorno às Raízes e Dominando os Elementos

Falando em melhorar o meu conhecimento sobre o jogo, eu também precisava melhorar o meu conhecimento escolar, afinal foi em 2005 quando eu repeti de ano e troquei de escola pela segunda vez. Foi nesse período de 7ª Série (a reprise), em 2006, que eu conheci o Giovani, um novo amigo que não só jogava Magic (de monoazul anula como um bom fdp), como ele me ensinou, da pior maneira possível, que anulas funcionavam contra qualquer carta do jogo, afinal, todas as cartas que não são terrenos em Magic são... Mágicas! Quem diria? Eu não diria, porque ele teve que imprimir umas 20 folhas com todas as regras do jogo e trazer para a escola no dia seguinte pra me convencer, o que não só eu levei para casa e li tudo, como guardei aquela papelada toda dentro da minha pasta por muitos anos, até as folhas começarem a amarelar e rasgar, e algumas regras terem mudado com o passar do tempo.

E não era só ele que jogava, como uns outros três ou quatro dos meus novos colegas de classe também, e agora eu estava jogando mesões de quatro ou mais pessoas tanto na escola quanto no meu condomínio! E em Outubro desse mesmo ano sairia uma coleção nova, Espiral Temporal, trazendo cartas do passado de Magic que também eram, de certa forma, do meu passado...

Espiral Temporal voltava para o plano/mundo original de Magic, Dominaria, após 3 longos anos apresentando novos planos. Dominaria era um mundo com o qual eu não havia tido quase nenhum contato até então, pois havia começado a jogar nos primeiros planos "novos" apresentados em Mirrodin, Kamigawa e Ravnica. Digo "quase" pois uma das criaturas originais que habitam Dominaria são justamente os fractius, tal qual o Fractius de Couraça, aquela que havia sido a minha primeira carta, que por tanto tempo havia me encantado quando eu era (mais) novo...

Evolução dos Fractius

Então quando fiquei sabendo que um dos decks pré-construídos dessa coleção era o deck "Evolução dos Fractius", fiz a minha primeira compra proposital/planejada de Magic, indo sozinho com o dinheiro que havia pedido aos meus pais até o antigo Mapping/Shopping ABC, onde havia uma loja de jogos logo na entrada. E felizmente lá estava ele, na vitrine, me aguardando! Era um deck de 3 cores, vermelho, verde e branco, sem nenhuma carta lendária ou que fosse necessariamente a estrela do deck. A carta frontal era o Fractius da Fúria, mas a força do deck estava justamente na força compartilhada tão característica dos fractius. Era um deck rápido, agressivo e praticamente todo de criaturas, com literalmente apenas uma outra mágica para remoção e outra para proteção. Eu removi elas. O deck não precisava lidar com a estratégia dos meus oponentes, você apenas descia fractius atrás de fractius, todo turno, deixando-os cada vez mais fortes.

Esse foi o primeiro deck que eu tive que considerei realmente forte, eu pegava ele e já esperava vencer. Nenhum dos meus amigos jogava Magic competitivo, mas não é como se um deck pré-construído fosse apelação de minha parte. Mas também não demorou para que o deck deixasse de ser "pré-construído" e eu começasse a modificá-lo. Quando meu amigo Giovani ficou sabendo o quanto eu gostava dessas criaturas e que agora tinha um deck deles, ele me contou que tinha na pasta dele um fractius mais antigo, lá daquela época do Fractius de Couraça, e que ele trocaria comigo por algumas cartas azuis legais que eu tinha... E foi assim que eu consegui pôr as mãos na minha cópia do Senhor dos Fractius, passando em troca, entre outras cartas, um Dia dos Dragões que ele usaria como finisher no deck azul de magos dele. 

Com o advento do Senhor dos Fractius meu deck passou a ser de 5 cores, o que não era problema nenhum uma vez que ele já vinha com 4 cópias do Fractius Pele Preciosa para gerar mana. E assim eu comecei a colecionar mais fractius antigos, adicionando eles ao meu deck sempre que fosse vantajoso. Um dos primeiros que adicionei além do Senhor dos Fractius foi, obviamente, o Rizo-Fractius, justamente para lidar com a absurda quantidade de anulas no deck do Giovani. Pode-se dizer que eu estava "retornando às raízes", se é que me entendem... (rizo são... raízes, aham aham?)

Enfim, quase um ano depois, lá para a segunda metade de 2007, foi a vez de lançarem uma nova coleção: Lorwyn, um mundo de contos de fada onde, curiosamente, pela primeira vez não existiam humanos. Também foi quando introduziram planinautas/planeswalkers, apresentando personagens como Chandra, Jace e Liliana pela primeira vez. Não vou me estender muito dizendo sobre como esse plano é maravilhoso, as artes das criaturas e terrenos são lindas, etc, etc. Novamente, fiquei maravilhado com o jogo. E foi numa outra visita ao Shopping ABC que encontrei, na vitrine daquela mesma loja, o último deck pré-construído que eu comprei por muito tempo, que me encantou logo de cara:

Caminho Elemental

Lorwyn podia não ter humanos, mas tinha elfos, goblins, sirenídeos (sereias), gigantes, kithkins (hobbits sem marca registrada), ents e... Flamíneos. O deck de 5 cores "Caminho Elemental" trazia essa raça completamente nova e original, um povo de humanoides elementais de fogo que cultuam e adoram outros elementais maiores de todas as cores e tipos. Mais uma vez para mim, era um deck tribal de 5 cores, com praticamente nenhuma carta que não fossem criaturas, mas ainda assim a forma como ele jogava era completamente diferente dos fractius. A carta frontal era o Carvalma Incandescente, que representa os flamíneos e a porção vermelha majoritária do deck, com sua habilidade sinergizando perfeitamente com a ideia do deck: Conjurar elementais momentaneamente, cada um com um efeito ao entrar em jogo completamente diferente para cada situação, para depois conjurá-los novamente do cemitério usando a verdadeira estrela do deck: a Horda de Noções, que representa um "estouro de manada" com múltiplos dos elementais maiores que os flamíneos cultuam.

Foi assim que passei a 7ª e 8ª série, jogando na escola e em casa com 3 decks diferentes. Bons tempos de jogar cartas que hoje são valiosíssimas sem shield e sem playmat, virando elas no concreto até começarem a perder a tinta... :'D Então nessa época eu já era o "cara dos fractius", ou o "cara dos tribais de 5 cores", e hoje em dia, ambos esses decks estão adaptados para o Commander, com o Senhor dos Fractius e a Horda de Noções sendo dois dos meus decks favoritos. 💓

Um Breve Hiato, e Um Retorno Intenso

Eu teria parado de jogar Magic no Ensino Médio, se não fosse por uma reviravolta maluca. Conforme eu lentamente parei de andar com os colegas do meu condomínio devido a serem todos filhos da puta, e conforme também fui perdendo boa parte do contato com meus amigos da escola quando eles trocaram de sala para o 1º ano do Ensino Médio em 2008, eu não tinha praticamente mais nenhum amigo nerd na vida escolar ou perto de casa, então eu já não tinha mais com quem jogar Magic... Devido a esse recente isolamento e o advento das redes sociales, além de já ter 15/16 anos, idade em que comecei a andar sozinho de ônibus e trem, eu reforcei meu contato com o Queijinho e outros amigos que havia deixado em São Caetano do Sul, minha cidade natal. No começo do Médio o Queijinho conheceu o Capelo na escola dele (funny enough, o Qjn também havia repetido um ano, então estávamos sincronizados novamente no Ensino Médio), e, junto com o Pato, um amigo que conhecia desde a 1ª Série (mas que eu havia me separado dele na 5ª Série quando eu mudei para o período da manhã) nós formamos um círculo de amizade muito especial. Na maioria das vezes saíamos apenas eu, Queijinho e Capelo, sem o Pato, e lembro de ter falado novamente para os dois jogarem Magic também, mas sem sucesso...

E por isso foi bem engraçado quando descobri, no meio de um evento de anime, que o Pato jogava Magic desde 2002/2003, tendo começado antes de mim, logo quando nos separamos de sala, sem eu nunca ter ficado sabendo. Nós estávamos em um dos saudosos AnimABC em meados de 2008 quando eu vi um representante da antiga loja Comix vendendo cartas de uma pasta, e decidi parar para procurar por fractius nelas e encontrei um Fractius de Magma todo arrebentado por apenas 2 reais. O Pato também estava nesse evento, e quando ficou sabendo que eu havia parado para comprar uma carta, me mostrou que carregava consigo uma bolsa transparente cheia de decks e cartas, a maioria de Kamigawa, que ficou me mostrando. O mais louco é que tenho uma foto disso!

AnimABC 2008
Pato de Near e eu de Edward Elric de touquinha do Pyong, essa foi definitivamente uma época que existiu. -q

Porém eu não estava com meus decks, afinal fazia algum tempo que eu não jogava e não esperava encontrar ninguém jogando, e nós também não marcamos para jogar depois disso, então o hiato pôde perdurar mais um pouco... 

Seria somente em meados de 2009, no 2º ano do Médio, que o Capelo um dia começou a jogar Magic também. Certa vez, antes de irmos todos passar um fim de semana na casa do Pato, o Capelo me solta um "Cara, sabe Magic, o jogo de cartas? Você joga, né? Traz no Pato pra gente jogar."

Minha reação foi tipo: "Sim, eu sei sobre a magia antiga, pois eu estava lá quando ela foi escrita..." 

Não, mentira, foi mais tipo:

"Sim, eu sei. Ok, eu levo."

Enfim, foi aí que eu voltei a jogar Magic e nunca mais parei. Mas dessa vez, estava jogando com amigos muito mais preciosos, e os mesões eram muito mais divertidos. O deck de elementais pode ter sido o último precon que eu comprei (até a chegada dos precons de Commander na vida adulta, usando o meu próprio dinheiro), mas a partir daqui eu comecei a construir meus decks do zero, seja comprando as cartas individualmente ou participando de eventos de pre-release, tendo começado a frequentar lojas de cardgame como a antiga Comix em São Caetano, que hoje vai por outro nome, ou a CHQ em Santo André, que era enorme e hoje em dia quase não existe mais. 

E depois, em 2010, o Queijinho também começou a jogar. E depois, em 2011, TODOS os nossos amigos estavam jogando, e muita coisa aconteceu. Varávamos noites nas casas de amigos jogando Magic. Eu comecei a faculdade, e conheci alunos e professores que jogavam lá também. Introduzi pessoas a começarem a jogar por todo canto que eu passei. Ganhei de presente uma fodendo Fractius Rainha pra completar a minha coleção, que é até hoje o meu card mais raro e mais valioso. Nós criamos praticamente um clubinho de Magic em São Caetano que jogava numa sorveteria, cujos donos eram irmãos e também jogavam conosco. Tínhamos nosso próprio evento de pre-release na Comix, fechado só para a gente. Migramos lentamente para o Commander, quando o formato tinha acabado de ter esse nome oficializado. Pessoas do interior de SP literalmente alugaram um ônibus em DUAS OCASIÕES para virem jogar Commander conosco na sorveteria. Joguei Magic na rua, e no trem. Joguei Magic em hotel, motel e hostel. Joguei Magic no Natal. Eu e o Queijinho jogamos Magic VOANDO NUM AVIÃO quando fomos visitar amigas da internet em Porto Alegre/RS. Ganhei torneios, eventos e mesões obscenamente grandes. Durante a pandemia, joguei Magic virtualmente. Fiz amigos em lugares novos, no trabalho e no swordplay (que é toda uma outra parte enorme da minha vida há 12 anos... talvez eu faça um post parecido quando completar 20, hehe), por causa desse jogo. Reatei contato com pessoas com quem não falava há mais de 10 anos, só por causa desse jogo. Enfim, vocês pegaram a ideia. 

(peço desculpas se por acaso alguém que não me tem no facebook estiver lendo isso, todos os links desse parágrafo levam para minha conta e ela é privada rs)

Nos meus primeiros 9 anos de Magic, montei cerca de uns dez decks casuais de Magic tradicional, sem nenhum formato específico, só para depois migrar, inicialmente a contragosto, para o Commander. Comecei com a Bruna, Luz do Bando Alabastro como meu primeiro comandante em 2012, e nos 11 anos que se passaram, fiz facilmente 20 ou mais outros decks. E isso que foi a contragosto, hein? Quem diria... 

Conclusão

Fiquei bem contente em ter decidido colocar todo esse texto no papel. Conforme ia escrevendo, percebi que haviam muitos detalhes obscuros na minha memória, especialmente datas e anos, que eu precisava esclarecer para mim mesmo, e é bom ter registrado tudo isso aqui. Por muito tempo, eu achava que meu primeiro deck havia sido o monoazul Alturas Majestosas, e que depois havia trocado ele e o Dimir pelo monoverde de Mirrodin, o que não faz muito sentido, considerando que o azul saiu em 2005, e o verde em 2003. Foi necessária muita reflexão e consultoria com meus pais e amigos para esclarecer a ordem de certas coisas, e entender a ordem dos fatores que apresentei aqui. O motivo de eu achar que tinha ido do azul pro verde foi porque depois de desistir do azul eu VOLTEI pro verde, que eu havia adquirido em 2004, não em 2003 quando lançou. 

Mas enfim, o real motivo MESMO de ter ficado bem contente com esse texto foi relembrar a jornada toda, e perceber como, de certa forma, a minha história de 20 anos com Magic: The Gathering não é necessariamente sobre o jogo em si, mas sim sobre os amigos com quem dividi esse hobby, essa jornada, esses VINTE anos. É muito tempo. Loucura. 

É literalmente o "Gathering", a reunião de pessoas, que faz a Magia acontecer. :)

Como dizemos por aqui...



terça-feira, 22 de agosto de 2023

Moments: The Delayed Edition #3

Eu em 03/2021: "Legal, estou postando bastante no blog, acho que oficialmente voltei."

Eu em 08/2023: "Nossa, como assim passaram 2 anos e meio desde a minha última postagem?"

Bem, cá estava eu pensando em fazer uma postagem específica, então vou aproveitar a deixa e postar uns moments guardados desde 2017/2018. Amanhã sai a postagem específica em si, eu acho.

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(diálogo interno)
Eu: Animais Fantásticos e Onde Habitam: O Famoso Curupira Invertido

Lizzie: Eu tenho 4 hábitos. Eles são de boas, pelo menos 3 deles. Um deles tenta me morder.
*Jabutis
Eu: É a força do hábito.
Tem que cortar os maus hábitos.
Lizzie: Foi só um erro do corretor, já terminou com as piadas? Tem que cortar ESSE mau hábito.
Eu: Animais Fantásticos e Onde Jabutam.

Guilherme: 
5 melhores amigos

Eu: Podia muito bem ser um gráfico sobre pêneses.

(virada do ano 2011/2012, caraca essa é velha)
Eu: Hey guys, eu sei que não costumo mandar esse tipo de mensagem, mas só pra eu não me sentir muito frio ou antissocial... Muita força pra todo mundo esse ano, e que tudo dê certo! Sei lá, acho que estamos precisando. Ou sou só eu, mas tá valendo.
Qjn: All you need is BUCETA!
Capelo: Ah, calaboca sua vadia!
Qjn: Vá tomá no cú, seu cuzeiro!
Pato: "Blablablablabla..." AAAAAH, VIADÃO!
Eu: ... E depois eu me pergunto porque eu não faço isso... I love you, guys. x'D

Lizzie: *posta matéria sobre como a China pretendia fazer/fará uma linha de trem de alta velocidade da Ásia até o Reino Unido, a linha Xangai/Londres*
Eu: Vai ficar pronta antes da Linha Bronze.
Qjn: As colônias de Marte também, se pá.
Eu: Linha de trem daqui pra Lua via elevador espacial também, se pá.
Qjn: Se pá eu tomo vergonha na cara antes da Linha Bronze e-
Lizzie:
Cleópatra comendo Pipoca

Minaru: Rápido, pense em algo aleatório que só o Contriller diria!
Eu: Aaahm... "E de repente o grupo de vocês é atacado por um tubarão-papaya!"

Tolin: oi k2 vc é 10
Eu: oi tolin vlw vc é 11
Tolin: vc é 12 cheque mate
Eu: vc é 13 fora temer
Tolin: Eu queria continuar nisso pra sempre. Você sabe que eu faria isso porque eu faço essas coisas, mas preciso sair para buscar o Mascher.
Eu: ...
Tolin: VOCE É 14 O MASCHER ESPERA
Eu: Nossa, colocando seus compromissos em primeiro lugar, vc é 15
Tolin: vc é 16 minutos que eu já deveria ter saído de casa
Eu: vc é 17 pq esperei o minuto passar pra responder
Tolin: vc é 18 wtf no relógio o minuto é 21
Eu: vc é 19 cm de rola no teu cu
Tolin: vc é 20 comer
Eu: Mano, vai lá. ANTES QUE EU XONE.
Tolin: CHEGA, PELO AMOR DE CRISTO!

Eu: Gente que dá oi, você responde na hora e ela não tá mais lá é tipo: "Escrevi e saí correndo, pau no cu de quem tá lendo."

(reassistindo Senhor dos Aneis pela enésima vez)
Gandalf: Só há UM senhor dos aneis...
Eu: Na verdade são 3 (filmes).
Gandalf: E ele não compartilha...
Eu: ...os oscars.

(ainda reassistindo Senhor dos Aneis)
Título na tela: O Senhor dos Aneis - As Duas Torres
Eu: ... De oscars empilhados.

(diálogo interno)
Eu: Quem é você mesmo? Nós nos conhecemos em Dezembro? Desculpa, morreu tanta gente no final de 2016 que eu nem sabia se você tava vivo ainda.

Eu: Acho legal esse cara, o Estácio, que criou toda uma franquia... O estacionamento.

(no nosso grupo de swordplay de piratas, descrevendo como "novatos" são chamados de "powder monkeys")
Lee: Então eu sou um "powder monkey"?
Eu: Sim, esses eram os caras que colocavam pólvora nos...
Qjn: Macacos.

Publicação no Facebook:
Oração
Eu: Cabe o meeeu almoço
Cabem 3 refeições inteiras
Cabe uma churrasqueira ♫♪

Eu: Acho que estou com depressão pós-parto. Não que eu tenha parido uma criança, no caso só estou deprimido desde que eu nasci mesmo.

Pato: Atualmente eu percebi que é bem engraçado falar "quem tem cu tem dedo" no lugar de "quem tem cu tem medo", e eu queria compartilhar isso, obrigado.
Eu: De nada.
Qjn: "Vamo dançá tudo nu, tudo nu..."
Eu: ... "Tudo com medo no cu."
Qjn: EURI
Eu: *frase sobre outro assunto não-relacionado que estávamos discutindo antes*
Qjn: Nossa, eu interpretei essa frase toda errada.
Eu: Tira o medo do cu pra escutar direito o quê eu escrevi! (??)

Eu: Eaí, que contas do teu date?
Qjn: Acho que a gente pegou na mão uma vez. Zero química.
Eu: Engraçado, eu também tirava zero em química.

Publicação no Facebook:
Bachtéria
Eu: Se Bach tem 1 trilhão de bachtérias, e perdesse 99,9% delas usando sabonete líquido, quantas bachtérias Bach teria?

(outro Moments de 2012, de onde eles surgiram e por que estão no meio desses de 2017, nunca saberemos)
Eu: Bring da bitches!
Biancardine: And the Lord did bring the bitches, and indeed He saw it was good.
And He smiled and danced and showed those bitches who was boss. And it was He.
Alão: Caralho, isso é quase o poema do Beowulf.

Qjn: Eu sonhei que estávamos numa chácara, era bem no meio da natureza, com lagoa e tudo mais. O Homer fez lanche de salame pra todo mundo.
Eu: Natural que é bom, salame direto da árvore.
Qjn: Não sua vara tola, o salame nós pescamos. Depois disso eu acordei e voltei a dormir e quase tive um sonho molhado.
Eu: ... Nós mergulhamos na lagoa?

"Hoje eu tô só o número 1. Porque hoje é dia de tocar clarineta pros vizinhos ouvirem.
Hoje é dia de cuspir no hambúrguer de siri. Hoje é dia de acender fogueira embaixo d'água, dia de duvidar da concha mágica, dia de balé psicodélico e dia de soltar lava pela cabeça gritando "CRACATOA!". Hoje é dia de maldade."
- Qjn, numa Sexta-feira.

Biancardine: Hoje pra mim é dia de esperar.
Esperar WWE 2K17 baixar, esperar GTA V me DEIXAR começar a baixar, esperar minha placa de vídeo nova chegar...
Eu: Pra mim todo dia é dia de esperar.
Dia de esperar o inexorável vazio existencial finalmente me matar.
Biancardine: ... E é por isso que eu sempre posso contar contigo para ser meu amiguinho pateta e alegre.

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É isso, nos vemos no próximo Moments daqui 2 anos e meio, ou não. -q

sábado, 27 de março de 2021

O Sonho do Minecraft

Olár!

Dessa vez, em vez de um sonho vindo do arquivo de posts não-publicados de 2016/2017, tenho um sonho de ontem mesmo.

Neste sonho, estava jogando Minecraft com alguns amigos e amigas (o que é meio aleatório, pois infelizmente nunca tive a chance de jogar Minecraft com mais do que uma pessoa), e estávamos jogando Hide or Hunt em duplas, uma modalidade customizada que consiste basicamente em:

- Cada dupla tem um Beacon que representa a sua base secreta. Eles tem que colocar esse Beacon num local escondido no primeiro dia de jogo e não podem mais tirar ele do lugar depois.

- Após o primeiro dia, o objetivo é procurar o Beacon de cada outra dupla e destruí-lo. A última dupla viva com seu Beacon de pé vence o jogo.

- A entrada/porta da sua base secreta não pode ter mais do que uma camada de blocos separando ela do mundo exterior, de forma que se alguém que estiver procurando aleatoriamente quebrar o bloco certo, terá acesso direto à sua base e ao seu Beacon.

- Cada dupla, ao morrer, respawna no seu Beacon. Além disso, só podem craftar no próprio Beacon. Dessa forma, força-se que os jogadores retornem à base com certa frequência, possivelmente revelando sua posição.

- Após ter seu Beacon destruído, a dupla ainda continua jogando até morrer, e podem usar essa vida para fazer o que quiserem, desde se aliar a outra dupla até continuar caçando por vingança. Após morrerem, não mais respawnam e estão fora do jogo.

- Cada dupla está em sua própria chamada no Discord, e podem convidar outra dupla para conversar quando desejarem.


Exemplo de uma base secreta com um Beacon (em azul).

Acho que essas são as regras que mais importam, pelo menos para contar o sonho. Foi tão detalhado que lembro até da geografia do mapa, mais ou menos. Então, sem mais delongas, vamos ao sonho!

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As duplas eram:

K-2 (eu) e Capelo (Vou chamar de Time Kps).

Quejinho e Pedro Nasseti (Vou chamar de Time Deuses Gêmeos).

Pato e Letícia (Vou chamar de Time Rat Lovers).

Lise e Ísis (Vou chamar de Time Lísis).

Spawnamos num mapa que era basicamente uma curta faixa de planície com colinas, praticamente sem árvores nessa faixa, e cercada dos 3 lados por montanhas altas, e do outro lado pelo mar. As montanhas tinham um pouco mais de árvores e também geravam pedaços flutuantes de chão que pairavam acima da planície, enquanto do outro lado do mar tinha uma floresta bem mais densa.

Como tínhamos o primeiro dia livre e sem conflitos para escolher um local para nossa base secreta e plantar o Beacon, cada dupla correu para um lado diferente. Todas as duplas correram para as montanhas, exceto o Time Lísis, que correu pro mar e saiu nadando mesmo, rumo à floresta.

Eu e o Capelo vimos as outras 2 duplas escalando as montanhas e desaparecendo na distância, enquanto nós mesmos escalávamos. "Você está pensando na mesma coisa que eu estou pensando, K-2?" perguntava o Capelo, e estávamos na mesma página: Iríamos fazer nossa base em um dos pedaços de chão flutuantes. Para chegar em um deles, a maneira mais fácil e sem deixar vestígios seria escalar a montanha mais próxima e então pular da montanha para o pedaço flutuante.


Exemplo de uma montanha com pedaços flutuantes.

Pegamos um pouco de madeira na única árvore que tinha naquele pedaço de chão flutuante e colocamos nosso Beacon no chão em um lugar estupidamente exposto, ao ar livre, por algum motivo que só poderia ser explicado em um sonho. Fizemos algumas ferramentas de madeira e pulamos de volta para o solo, usando uma poça d'água na planície abaixo, e fomos coletar mais recursos para craftar.

Nos aproximamos de algumas árvores que ficavam entre as montanhas e começamos a coletar madeira e pedra, quando vimos o Time Deuses Gêmeos descendo a montanha em nossa direção, como que numa carga. Eles estavam armados com espadas de madeira, e nós subimos nas árvores para nos proteger. Eles ficaram rondando ao redor, esperando a melhor oportunidade para subir na árvore, quando eu lembrei que ainda era o primeiro dia e eles não podiam nos atacar. Entrei na call deles e o diálogo foi mais ou menos assim:

*connect*

Qjn: Vai passando a grana aí, otário!

Pedro: É, passa tudo!

Eu: ... Olá.

Qjn: Olá. Agora, vai passando tudo!

Pedro: É, perdeu, mermão!

Eu: Então, é o primeiro dia. Vocês não podem atacar ainda.

Qjn: ...

Pedro: Oh.

Capelo: Pois é. 😐

Qjn: Vocês tiveram sorte... DESSA VEZ.

Pedro: Falou, otários!

*disconnect*

... Uffa. Eles foram embora e nós descemos da árvore para continuar pegando recursos. Voltamos para nossa base pelo caminho do pulo e fizemos nossas ferramentas de pedra, e agora precisávamos de ferro, para idealmente termos armas e armadura para o segundo dia.

Mas o Capelo apontou que chamávamos muita atenção subindo a montanha para chegar na nossa base, e que talvez devêssemos fazer um caminho diferente... Tipo um TÚNEL SECRETO ATRAVÉS DA MONTANHA.

Through the mountain! Secret, secret, secret, secret tunneeel! ♪

O que era conveniente porquê, no processo de fazer um tunel, poderíamos encontrar ferro também. Então, começamos a cavar um túnel na lateral da montanha, de frente para nosso pedaço de chão flutuante, até algum lugar escondido na base das montanhas, por onde poderíamos entrar discretamente e sair lá em cima.

Magicamente, como em um sonho, conseguimos fazer exatamente isso, sem precisar de muito planejamento. E no meio do caminho, montanha adentro, encontramos uma caverna onde conseguimos coletar ferro e carvão. Tinha alguns mobs também, como aranhas e esqueletos, mas nós não deixamos a caverna nos abater.

Não deixe a caverna te abater, Sokka~ ♪

Quando terminamos nosso túnel e voltamos para nossa base com os recursos, já era de noite. Fizemos nossa fornalha e começamos a derreter o minério de ferro, mas cada vez mais parecia não ter sido uma boa ideia colocar o Beacon ao ar livre, pois monstros estavam spawnando no nosso pedacinho de terra voador. De qualquer forma, não podíamos mais mexer no Beacon, então não havia o que fazer.

Raiou o segundo dia, e o jogo estava valendo. Nós estávamos com espadas e picaretas de ferro, escudos, e parcialmente armadurados, o que parecia bom o bastante. Decidimos vasculhar as montanhas por sinais das bases dos outros jogadores.

O topo das montanhas era um platô de pedra lisa, com alguns bolsões de carvão expostos que já pareciam ter sido parcialmente mineirados. Ficamos por ali coletando mais um pouco de carvão que nunca é demais, quando ouvimos barulhos de luta. Saímos do pequeno buraco que havíamos cavado pegando carvão e nos encontramos no meio de uma batalha entre o Time Rat Lovers e o Time Deuses Gêmeos. A batalha em si estava um caos, com eles girando ao redor uns dos outros e trocando de alvo o tempo todo. Parecia que estavam ali fazia algum tempo.


Exemplo de um topo de montanha rochoso.

Decidimos entrar no meio da treta para finalizar alguém e pegar seus espólios, o que foi bem mais difícil do que parecia. Todos estavam de escudo e tinham bastante comida para se regenerar. Seria difícil descrever todo o combate em texto, mas ficamos ali praticamente o dia todo. Até ocorreram alguns abates, lembro pelo menos do Qjn e do Pedro terem morrido em ocasiões separadas, mas a luta continuou e logo eles estavam de volta, vindo da direção de suas bases, para pegar de volta os seus drops.

Anotamos mentalmente a direção da qual eles tinham vindo para procurarmos suas bases posteriormente, mas ficamos presos naquela luta infinita até o anoitecer, quando monstros começaram a spawnar e interromperam a batalha épica. Aproveitamos a deixa para escapar e voltar para nossa base com nossos espólios. Descemos as montanhas, entramos no nosso Túnel Secreto, subimos pela caverna evitando mais monstros, e saímos no paredão da montanha, pulando para nosso chãozinho voador.

Fizemos um baú maior para guardar todos nossos recursos e espólios, e agora tínhamos armadura completo e algumas armas de reserva em nossa base, caso morrêssemos. Esperamos a noite passar enquanto organizávamos nossos itens, cozinhávamos mais comida (havíamos gastado quase tudo na batalha) e matávamos algumas aranhas ocasionais que spawnavam na nossa base (afinal não podíamos colocar tochas ou iríamos revelar nossa posição).

Manhã do terceiro dia. Decidimos observar do topo de nosso pedaço de terra flutuante, esperando descobrir alguma coisa sobre a posição de nossos adversários. Após algum tempo de tocaia, vimos o Time Lísis vindo de barquinho pelo mar, e decidimos pular lá de cima para pegá-las de surpresa.

O plano deu muito errado. Esperamos elas virarem de costas e pulamos lá de cima para a nossa poça d'água, mas uma delas se virou e nos viram. Elas vieram nos atacar enquanto estávamos na água, e só então percebemos que estavam com armadura de fodendo diamante. Com muito esforço, conseguimos sair da água, mas à essa altura já estávamos com pouca vida e corremos para o mar, pegando o barco delas por pouco e escapando. 


Omae wa mou shindeiru.

Só que o maior problema nem foi esse. Como elas nos viram pulando do pedaço de chão flutuante, elas foram capazes de deduzir que nossa base poderia estar ali, e começaram a correr na direção da montanha. Eu e o Capelo saímos do barco para comer e regenerar, e nisso a Ísis subiu a montanha para procurar nosso Beacon, enquanto a Lise ficou no solo para nos atrasar. Ela viu a gente desembarcando e começando a comer, e decidiu vir correndo na nossa direção. Eu e o Capelo nos separamos, e eu fui na direção do nosso Túnel Secreto, que era mais demorado do que subir a montanha, mas era melhor do que levar um golpe delas e ser arremessado montanha abaixo e morrer por dano de queda.

Fiz todo o trajeto de túnel - caverna - túnel - paredão, e pulei para nossa ilha voadora, bem a tempo de ver a Ísis batendo em nosso Beacon e destruindo-o enquanto eu corria em sua direção. Eu não parei, e consegui acertá-la algumas vezes seguidas, empurrando-a para fora da beirada. Ela caiu e explodiu no chão, deixando suas armas, comida e armadura de diamante no chão.

Pulei novamente para a poça d'água no solo e coletei os espólios, e parecia que o Capelo tinha conseguido derrotar a Lise de maneira similar, derrubando ela da montanha. Porém, nosso Beacon havia sido destruído, e não podíamos mais ganhar o jogo.

Mas poderíamos garantir que elas não ganhariam também. 😐

Com nossas novas armaduras de diamante e um bom estoque de comida, pegamos novamente o mesmo barquinho e remamos até a floresta do outro lado do mar, onde elas deviam ter feito sua base secreta. Andamos agachados entre as árvores, e para nossa sorte, vimos elas saindo de uma caverna muito bem escondida por dois troncos que elas abriram, saíram, e colocaram de volta no lugar.

Esperamos elas viraram de costas e se afastarem, mas elas nos viram novamente, e corremos na direção dos troncos. Derrubamos eles e entramos na caverna, com elas já no nosso encalço. A caverna era bem aberta, com o chão coberto de água, e havia uma fazenda artificial bem no meio. Dali, já podíamos ver o Beacon, e corremos até ele e começamos a atacar, enquanto as armaduras de diamante que roubamos delas tankavam o dano de seus ataques. O Beacon foi destruído rapidamente pelos nossos golpes simultâneos, e nossa vingança havia sido concluída. 

Nos viramos, ainda bem saudáveis, para enfrentá-las, quando de repente...

Pedro e Quejinho, o Time Deuses Gêmeos, entrou na caverna! Eles deviam estar observando tudo e nos seguindo desde o começo. Eles não tinham armadura de diamante, mas estavam decididos a eliminar os dois times sem Beacons. Outra batalha bem caótica começou, pois o chão da caverna era todo de água, e a movimentação era desajeitada. 

E quem saiu vencedor deste épico combate? Será que o Time Deuses Gêmeos conquistou sua vitória através da agressividade? Ou teria essa sido a chance para o Time Rat Lovers sair de sua toca e tomar o pódio? Nunca saberemos. Nas palavras de John Lennon:


O sonho acabou.

É isso, eu acordei aí, então vocês decidem o que pode ter acontecido. Gostaria de poder jogar esse modo Hide or Hunt na vida real, mas não só as pessoas não costumam ter o Minecraft original, como não sei o que precisaria para modificá-lo com essas regras. Mas pelo menos em sonho, pude me divertir jogando com meus amigops.  ^^

sexta-feira, 26 de março de 2021

Yarok, o Clérigo da Morte com a História Escrita por George R. R. Martin

Olha só, quem diria, tive a chance de criar mais um personagem para outra campanha de D&D!

Dessa vez, é uma campanha one-shot, ou two-shots, que visa um grupo de combatentes indo participar de um Grande Torneio envolvendo pessoas de todas as nações. Tínhamos uma descrição breve da importância do torneio e das diferentes regiões e nações, porém muita coisa estava em aberto, por exemplo, tínhamos o nome de cada nação e sua capital, mas podíamos criar cidades, eventos passados e nomes de divindades nas histórias de nossos personagens.

Ao contrário do meu personagem em outra campanha que estou jogando, que é um kobold covarde, dessa vez eu decidi fazer um personagem mais maneiro e EDGY.

Com a permissão da Mestre, (que é minha namorada mas isso não tem nenhuma influência sobre a permissão, claro), pude fazer um Clérigo do Domínio da Morte. Essa é uma classe apresentada como classe vilanesca no Guia do Mestre do D&D 5th Edition, porém é bem comum se você olhar por aí que a classe seja utilizada por jogadores, e o livro até descreve a possibilidade de ser utilizada dessa forma. A maior dificuldade é em termos de roleplay, para encaixar um clérigo com alinhamento Mau na party.

Bem, em uma das streams de campanhas do Koibu que eu assisti, Gnomes, Tomes and Catacombs, Lilypichu interpreta Midori, uma clériga da deusa da vida que, após a morte de dois dos personagens de outros jogadores durante a campanha, converte-se para a deusa da morte. Essa deusa, no mundo criado por Koibu, apresenta uma postura mais Neutra para o conceito de Clérigo do Domínio da Morte: A de que a Morte é necessária para a manutenção da Vida, e que a Destruição é um pilar necessário para a Criação.

Trouxe esse conceito de neutralidade para o meu personagem, criei a cidade-natal dele, assim como alguns conflitos locais, e criei o conceito de duas deusas gêmeas representando a vida e a morte: Kaira, a deusa da vida, possui apenas a metade de cima do rosto, do nariz para cima, com longos cabelos dourados, enquanto a deusa da morte Ashiok, totalmente baseada na Ashiok do Magic, tem apenas a metade de baixo do rosto, com fumaça negra saindo por cima.

Segue abaixo a história do personagem, que acabou ficando bem grande, e meio que me senti como o George R. R. Martin fudendo com a vida de seus personagens, então espero que gostem! ^^

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A História de Yarok, Campeão de Ashiok

Yarok foi um jovem que dedicou boa parte de sua maturidade servindo a deusa da vida Kaira, uma das deusas gêmeas no deserto de Tamamaam.

Nascido numa cidade menor chamada Bashuk, próxima à Zijab, desfrutou de relativa paz e prosperidade com sua família de origem, vivendo numa região emergente que se desenvolvia às sombras da capital. Porém, essa prosperidade seria cortada com o início de uma guerra civil onde os inimigos visavam a capital Zijab, que não é reconhecida por todos os povos do deserto. Apesar da capital nunca ter sido atacada neste conflito, quase todas as cidades menores nas regiões vizinhas foram atacadas, saqueadas, ou tomadas, Bashuk sendo uma delas. Quando a região foi finalmente retomada pelas forças legítimas de Zijab, o cenário nessas pequenas cidades havia se invertido, sobrando apenas pobreza e destruição.

Seus pais morreram na guerra, casualidades civis, quando ainda tinha 6 anos, e desde então ele e suas irmãs viveram com os tios, que também haviam perdido seus filhos na mesma guerra. A vida com seus tios não foi particularmente ruim, porém teve que amadurecer rápido e tomar conta de suas irmãs, uma vez que seus tios não podiam dar muita atenção para eles, e nem possuíam muito dinheiro.

Aos 16 anos uma doença abateu-se na região, espalhando-se rapidamente pelas rotas comerciais e tomando a vida de suas irmãs e de seus tios, deixando-o sozinho. Não foram mortes fáceis de assistir, tendo presenciado sofrimento e agonia revirarem os olhos inocentes de suas irmãs.

Perdido e abalado, procurou abrigo numa abadia isolada nos arredores da cidade dedicada à deusa Kaira, onde estavam adotando os órfãos deixados pela praga, mas apenas aqueles que já haviam se mostrado imunes à doença, que tiveram contato com pessoas doentes sem serem afetados e que não iriam trazê-la para dentro da abadia, que ficava protegida pela sua distância da cidade.

Como ele já não era uma criança pequena, foi tomado como ajudante, cuidando dos órfãos mais novos enquanto era doutrinado sobre a deusa Kaira e como ela protegia toda a vida como se fossem seus filhos e filhas.

Para ele, foi como ter encontrado uma motivação após toda a morte que sempre o cercara durante toda a vida; talvez tivesse passado por tudo isso para aprender sobre a importância da vida, e seu dever em protegê-la. Decidiu que por onde passasse, levaria as palavras da deusa Kaira, e faria tudo ao seu alcance para que outros não conhecessem a dor da perda e da morte como ele conheceu.

Dos 18 aos 22 anos, Yarok viveu como um clérigo guerreiro que servia à deusa da vida, e junto com outros clérigos e guerreiros ele se tornou parte de um grupo de devotos que viajava para outras cidades mais distantes, protegendo e curando vítimas de conflitos locais e doenças. Esse grupo veio a se tornar praticamente sua segunda família, onde também conheceu seu primeiro amor, uma clériga chamada Allana, e seu melhor amigo, outro guerreiro chamado Marko. Juntos, e como parte desse grupo, realizaram grandes feitos de trabalho humanitário, intervindo quando ninguém mais se importava em intervir, ajudando os realmente necessitados, e impedindo muitas mortes. Porém, ainda assim, também presenciaram muitas mortes que não puderam evitar.

Quando retornavam de suas missões, voltavam para aquela abadia local nos arredores de Bashuk, que ainda recebia muitos jovens órfãos. Essas crianças viam Yarok e seu grupo como seus heróis e irmãos mais velhos, e o clima no local era de uma felicidade simples e de grande hospitalidade e familiaridade.

Porém, tudo isso mudou novamente, e Yarok conheceria a morte de perto mais uma vez. Em certa ocasião, quando seu grupo saiu para intervir em um conflito que devastava uma região mais distante e próxima das montanhas, líderes locais responsáveis por esse conflito não gostaram da chegada do grupo, e prepararam uma armadilha. Yarok e seus amigos foram emboscados dentro de um refúgio civil onde estavam cuidando dos feridos, com os atacantes cercando o local com o objetivo de massacrar a todos. Eles lutaram bravamente para impedir a entrada dos atacantes, mas no final, sem conseguirem entrar, os atacantes atearam fogo no refúgio com o grupo de Yarok e todos os sobreviventes e órfãos dentro.

O que se seguiu foi o caos, com as pessoas correndo para fora, fugindo das chamas, apenas para serem mortas por flechas e espadas. No meio do caos, Yarok e seus companheiros tentaram liderar algumas pessoas através da confusão, sem sucesso. Todos foram mortos, e Yarok acordou apenas no dia seguinte, esquecido e abandonado em meio aos corpos de seus amigos e de inocentes. Com muito esforço e angústia, encontrou e enterrou os corpos de Allana e Marko. Marko havia morrido lutando ao seu lado, porém Allana identificou somente por causa de seus colares e pulseiras, carbonizada debaixo dos restos do refúgio.

Sabe-se lá como, Yarok conseguiu chegar num povoado próximo, onde comprou provisões e um cavalo com o dinheiro que havia conseguido dos mortos, e fez a longa jornada de volta para a abadia sozinho, carregando o peso esmagador do luto em suas costas.

Quando finalmente alcançou a cidade de Bashuk, os moradores locais reconheceram-o chegando, e se aproximaram com pressa. Para seu horror, contaram-lhe sobre um grupo de estranhos que chegou à cavalo na cidade na noite anterior, matando alguns guardas que foram pegos de surpresa, sendo expulsos por outros guardas logo depois, e então recuado para fora da cidade, na direção da abadia, que ficava isolada e desprotegida. Daquela direção, subia uma coluna de fumaça negra.

Yarok cavalgou às pressas, apenas para encontrar a abadia incendiada e em ruínas, com todas as crianças, clérigos e ajudantes mortos dentro. Pelo visto, os mesmos líderes locais que não haviam ido com a cara daquele grupo de clérigos e guerreiros trazendo ajuda humanitária à uma região distante não se contentaram em apenas eliminá-los junto com os refugiados, e enviaram um destacamento menor muito longe apenas para destruir a abadia deles e apagar de vez com todos os seus traços de existência e tudo que haviam construído ao longo dos anos. Talvez fosse apenas uma mensagem para que nenhum tipo de força ou ordem vindo da capital Zijab ou de seus arredores se intrometessem em seus assuntos, e que nenhuma ajuda era bem vinda.

Qualquer que fosse a motivação, não importava mais para Yarok. Ele apenas gritava, ajoelhado no chão, sobrecarregado com toda aquela morte e sofrimento desnecessário. Corpos carbonizados de inocentes, de fiéis, de pessoas que queriam apenas ajudar ao próximo, que somente desejavam tornar o mundo melhor. Sua namorada, seu melhor amigo, sua nova família... Todos mortos. Pela segunda vez, ele havia perdido toda a sua vida e todo mundo ao seu redor. Pela segunda vez, perdeu todo seu senso de normalidade e perspectiva para o futuro.

Gritou e clamou pela sua deusa. Onde estava Kaira? Que vida ela protegia, se não protegia a vida de seus servos, de suas crianças? Como ela podia deixar a vida de todos esses inocentes ser tomada assim, apenas por um capricho de pessoas egoístas? Como ele poderia proteger algo tão frágil e sem valor como uma vida, se nem uma deusa era capaz de proteger?

Suas palavras cortaram o coração da deusa Kaira como veneno, e em seu coração ele sentiu a profunda mágoa da deusa e sua raiva para com ele. Ou seria a sua própria raiva e mágoa? Poderia ele sentir o exato momento em que sua deusa o abandonou, sendo acometido de um vazio maior do que nunca em seu coração, ou seria apenas sua própria dor e solidão? Yarok considerou tirar sua própria vida ali mesmo. Suicídio, o maior pecado para um clérigo da vida.

Mas ele foi interrompido por um frio em sua espinha. Um calafrio correu por suas costas e chegou até a parte de trás de seu pescoço, acariciando sua nuca. Como um toque vindo de uma mão gelada, de unhas afiadas, mas ainda assim tão gentis... E então escutou uma doce voz sussurrando em seu coração arrasado.

Era Ashiok, a deusa da morte, irmã gêmea de Kaira, a quem ela adora provocar. Com suas palavras de conforto e sabedoria ditas de forma gentil no momento mais frágil e oporturno, ela não poderia perder a oportunidade de converter o último servo daquela abadia para si mesma. Sabia que para sua irmã, este seria um crime muito pior que o suicídio.

“Yarok, minha doce criança... Você sofre pela vida daqueles que você perdeu, mas eles estão em paz, comigo. Você sofre por estar vivo, mas não eles, não mais. O sofrimento que eles sentiram, e que você sente agora, vem apenas por se agarrarem tão forte à vida. Mas a morte é bela, é justa e piedosa... Não há sofrimento após a morte, e não precisaria haver antes dela também... Basta apenas aceitá-la. Me aceitar. Se as pessoas parassem de lutar contra a morte, não haveria tanto sofrimento, pois eu garanto uma passagem segura e indolor para o outro lado.”

Yarok lembrou-se do pouco que sabia sobe os clérigos da deusa Ashiok; pessoas encapuzadas que viajam pelo deserto carregando seu símbolo, oferecendo a única bênção que ela pode oferecer: A morte. À primeira vista pode parecer algo mórbido e horrendo, mas ocasialmente, por onde passam, pessoas os procuram para ajudar um parente enfermo, sofrendo com doenças ou feridas incuráveis. Sua bênção encerra a vida da pessoa de maneira rápida e indolor. Até mesmo alguns idosos, em sua idade avançada, buscam a deusa Ashiok para que possam ter uma morte tranquila e pacífica.

“Não aceite mais as mentiras da vida, contadas por Kaira... Não há como você proteger algo que está fadado à acabar, é um trabalho infrutífero e infeliz. Aceite a minha verdade, meu querido Yarok: A única verdade sobre a vida, é que ela acaba. A única garantia para os mortais, é a morte. E eu venho aqui como a deusa dessa verdade, e lhe ofereço a chance de servir à única força com a qual você poderá contar até seus últimos dias!”

Para Yarok, era impossível não dar ouvidos à essas palavras. Parecia tão lógico, tão sensato. Um mortal como ele jamais poderia lutar contra a morte, jamais poderia proteger algo que não pode ser protegido.

Talvez, pensou, a morte fosse a melhor maneira de ajudar as pessoas. Lembrou-se do quanto viu suas irmãs sofrerem com uma doença quando era mais novo, e no quanto todos aqueles que foram queimados na abadia e no refúgio deveriam ter sofrido. Gostaria de ter-lhes oferecido a bênção de Ashiok; uma fria e doce carícia seguida apenas pelo descanso eterno.

Guiado pelas palavras da deusa da morte, vivendo seu luto e buscando iluminação, Yarok partiu da cidade sem falar com mais ninguém, vagando pelo deserto e chegando até às montanhas, onde subiu e isolou-se no topo de um platô. Viveu em reclusão por 4 anos, sustentado principalmente pela sua nova fé, pois Ashiok ainda tinha um trabalho para ele. Ela sabia que ele ainda traria muitas vidas para seus braços antes que sua própria acabasse.

Yarok continuou treinando e vivendo nas montanhas, até que no fim de seu período de reclusão, sua deusa finalmente revelou o trabalho que tinha para ele: Em breve haveria um Grande Torneio, envolvendo todo o continente, e ele seria seu Campeão. Ele deveria participar desse torneio, e ganhar em seu nome, e então mais coisas seriam reveladas no momento certo.

Quando questionou porquê ela precisava que ele participasse num torneio, a única resposta que teve foi: “Forças ocultas alteram o equilíbrio entre a vida e a morte, e através desse torneio, você poderá participar diretamente no esclarecimento e na resolução de tais forças, prestando assim um grande serviço para mim, um que ninguém mais seria capaz de cumprir.”

E assim, no seu aniversário de 26 anos, Yarok encontrou sua resolução e desceu das montanhas como Campeão de Ashiok. Tomou rumo para Teópia, o grande império onde ocorreria tal torneio, e em seu caminho, encontraria situações onde poderia acabar com a vida dos injustos, e trazer um fim para o sofrimento dos inocentes.


Para apresentar-se como um Campeão da deusa da morte, conseguiu um escudo de um inimigo abatido e pintou-o ele mesmo com as cores e símbolo de Ashiok: Metade de um rosto pálido e feminino, exalando fumaça negra.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Moments: Edição Para Pensar

Vindo direto dos arquivos não-publicados de 2016/2017, segue mais uma sessão de Moments que explicam muitas coisas sobre o passado se você parar pra pensar. Ou não. 

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Ex: Sabe o Jimmy Fallon?
Eu: Quem?
Ex: É um comediante que tem um Late Show.
Eu: Sabe quem também tem um late show?
Ex: Quem?
Eu: O Starbucks.
Ex: ...
Eu: Sabe, LATTE... Show.
Ex: *ignora e continua falando* Então.
(Por que será que ela terminou comigo?)

*em casa sem luz*
Ex:  Nossa, será que vai ficar a noite toda sem luz?
Eu: Normalmente fica até o sol nascer, por isso se chama "noite".
(Ah tá, deve ser por isso. -q)

Mariana V.: Affe, querem mudar o nome da estação Vila Mariana prum pastor chamado Enéas. Não ousem mudar o nome da minha estação!
Eu: Se não for pra mudarem pra Vila Marinada, nem mudem!
Ou Vila Marilurdes.
Ou Vila Marilove.
Vila Marixana, etc.
Mariana V.: Você é péssimo, hahaha!
Eu: VILA MARITACA! Tá, parei.
Mariana V.: Vila Maricota, como minha mãe me chama.
Eu: Perfeito.

Eu: Salgados por 1 real ao lado da CHQ. Is this real life?
Capelo: Acho que são feitos com os estudantes perdidos da UFABC.
Eu: Bom, se eu não responder mais, já sabe.

Eu: Vou jogar XCOM 2, boa noite. <3
Ex: Ai, não, quero mais você.
Eu:

Pronto, boa noite.
Ex: *ignora e continua conversando*
(Estou notando um padrão.)

Eu: "Versão Brasileira, brHUE: Brazil Has Uírde Estãf."
(Brazil has weird stuff.)

Eu: *pessoa que não gosta de palmito* A vida é como um grande palmito, vem contra a sua vontade.

Ex: Tô com mó preguiça, mas tô com a barriga muito cheia para ir deitar na cama...
Eu: Resumo da minha vida.

Publicação no Facebook: Esse é um pai mito.
Eu: *postando comentário* E esse é um palmito.


*durante a guerra de provocações de milkshakes entre redes de fast-food*
Eu: Desde que começou essa campanha/disputa de #milkfake, até parece que o shake do Bob's ficou mais gostoso. Acho que é o sabor da guerra.

Eu: "I'm blue, Babidi-Daburah, Babidi-Daburah..." ♪
(I'm blue, da ba dee, da ba da.)









Ex: Ah, desculpa.
Eu: Por quê?
Ex: Arrotei.
Eu: Nem ouvi.
Ex: É que passou uma moto.
Eu: "Sabe essa moto barulhenta que acabou de passar? Então, era uma bicicleta."

Publicação no Zap: Será que na Grécia antiga, escreviam "Zeus é fiel" nas carroças?
Qjn: More like "Zeus, não me mate."
Eu: Ou "Zeus, por favor não transe com a minha mulher."
Hed: Impossibru. Mitologia grega in a nutshell = Zeus couldn't keep it in his pants.
Eu: Gênesis grego: "No começo havia apenas a escuridão. 
Então, Zeus fodeu a escuridão com seu glorioso membro olímpico. Nove meses depois, a escuridão deu a Luz."

*falando sobre uma foto velha de quando éramos crianças*
Pato: Sei lá, éramos idiotas.
Eu: Não éramos idiotas quaisquer, éramos Lendários Idiotas!

*depois de trazer comida vindo de outro município, no calor do verão*
Eu: Comida chegou quentinha, acabou de sair do ônibus.

*falando sobre comida*
Ex: Opa, malz, eu confundi frozen com smoothie.
Eu: *voz do Lucas do Inutilismo* Melhor do que confundir Frozen com Enrolados, a trama é bem diferente.
Ex: *ignora e continua conversando*
(Vendo agora, é óbvio que era uma relação insustentável. -q)

(E para tirar o foco de relações passadas e fechar esta sessão com chave de ouro...)

*durante uma discussão casual sobre qualquer coisa*
Eu: Peraí, deixa eu pesquisar isso.
*pega o celular *
*destrava o celular*
Ok Google. *barulhinho*
*abre a boca para falar*
Qjn: SURUBA DE ANÃO!
Todos: *RISOS*

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É isso, espero que tenham gostado. xD